Por: Silvia Schreer – Psicoterapeuta

Como sempre fui do esporte , depois de alguns anos focando mais como triatleta e no ciclismo ,  adoro coisas novas e desafios que me tiram da zona de conforto. Decidi mudar um pouco os treinos e me aventurar nas trilhas, e logo de cara percebi o quanto esse mundo é diferente. Desde os equipamentos até a própria mentalidade, tudo exigiu adaptação e aprendizado. Vou contar um pouco sobre minha primeira prova de trail, a LA MISION ( distância de 15km) . E sim, para o pessoal do mundo das trilhas 15km é uma distância bem pequena . Outra coisa que estou me adaptando. Treinei bastante em asfalto mas me dei conta que precisava entrar no mato para treinar as técnicas, e entender que pace aqui, é só um detalhe.

A Preparação: Equipamentos e Autossuficiência

A primeira grande diferença que notei foi nos equipamentos. Acostumada com o triathlon, onde tudo é milimetricamente calculado, me deparei com um novo conjunto de ferramentas que precisava aprender a usar. Os bastões, por exemplo, são fundamentais no trail, mas confesso que ainda estou me familiarizando com eles. A escolha dos tênis, da mochila, e até mesmo dos itens de primeiros socorros são cruciais. Levei o básico recomendado, mas rapidamente percebi a importância de itens como um spray de gelol e uma atadura extra, especialmente para lidar com torções ou câimbras, que são bastante frequentes nas trilhas.

Além disso, a questão da autossuficiência é levada a outro nível. Não basta apenas correr; é preciso planejar minuciosamente o que levar em termos de água e comida. O peso da mochila pode fazer toda a diferença. Não pode faltar nada, mas também não pode haver excessos. Essa preparação, que vai além do físico, foi um aprendizado valioso.

Os Desafios do Terreno e da Altitude

O percurso do trail running é um verdadeiro teste de versatilidade e resistência. Diferente do asfalto previsível do triathlon, as trilhas oferecem uma variedade de terrenos: terra batida, asfalto, pedras soltas, grama e até lama, cada um exigindo uma adaptação rápida e precisa. As subidas parecem intermináveis, e as descidas, por mais que aliviem as pernas, são verdadeiros desafios técnicos, onde qualquer descuido pode resultar em quedas. A técnica para lidar com esses diferentes terrenos é fundamental, assim como a capacidade de se manter focado e ágil. E, para quem não é fã de grandes alturas, o trail running também traz o desafio adicional das altitudes elevadas, onde o medo de altura pode se somar ao cansaço físico e mental, exigindo ainda mais força de vontade para seguir em frente.

A Mente: O Maior Desafio

Mas se o equipamento e a autossuficiência são desafios, a verdadeira batalha no trail running acontece na mente. Minha primeira prova foi curta, mas estar presente na linha de chegada e ver atletas que correram por mais de 6 horas, alguns chegando a 30 horas de prova, me fez refletir profundamente sobre o poder da mente. Eles enfrentaram temperaturas que variavam de 8 a 30 graus, privação de sono, e ainda assim cruzaram a linha de chegada. Isso me mostrou que a montanha te humilha, te traz para o chão, e te faz perceber o quanto somos pequenos diante da sua grandiosidade.  Ao cruzar a linha de chegada, nos damos conta de que a força que pensamos ter perdido está ali, no nosso coração e na nossa mente, tão grande e forte como antes. E assim, tudo se ressignifica.

De uma forma ou de outra, sempre saímos mais fortes dessas experiências. O trail running me ensinou que, apesar das dificuldades, a força interior é imensurável e que, no fim, o que importa é seguir em frente, um passo de cada vez, até a linha de chegada.

Cheguei na sétima posição da minha categoria, que também diferente do triathlon, é estabelecida de 10 em 10 anos. Estou muito surpresa e realizada com meu resultado, e animada para enfrentar mais desafios de trail running.

Para quem ainda não viveu a experiência das trilhas, sugiro que se aventure. Você vai descobrir um novo mundo de desafios e superações!