O fenômeno de “blues pós-competição” é comum entre atletas, incluindo os de trail running, especialmente após provas icônicas como La Misión (Serra Fina, MG), UTMB (França), UTMB Paraty (Brasil), e a série KTR ,entre outras.

Essas competições vão além do desafio físico, oferecendo experiências que conectam os atletas à natureza e ao processo de superação pessoal

Psicólogos como Tal Ben-Shahar e Jim Afremow discutem essa sensação em termos da “falácia da chegada” onde acreditamos que ao atingir um objetivo, finalmente encontraremos a felicidade plena. No entanto, ao contrário, isso frequentemente resulta em uma sensação de vazio após o evento, como se algo ainda estivesse faltando. E porque isto? Parte dessa frustração vem de colocar todas as expectativas em um único objetivo, sem dar valor ao processo e à jornada em si.

A Importância dos Ciclos de Treinamento no Trail Running

O trail running , assim como outros esportes, envolve um planejamento cuidadoso, preparação mental e física. Estabelecer ciclos de treinamento é essencial, tanto para melhorar o desempenho quanto para promover a recuperação. Cada fase — preparação/base, pico e descanso — deve ser cuidadosamente planejada para otimizar os resultados e evitar lesões. O período de descanso, muitas vezes negligenciado, é fundamental para a assimilação dos ganhos físicos e mentais. Contudo, ao final de um ciclo de provas, muitos corredores podem sentir um vazio ou um desafio em se desapegar da rotina intensa de treinos. O término de um ciclo de treinamento pode ser emocionalmente desafiador. Então, como lidar com essa transição? Utilizando esses momentos de pausa para se reconectar consigo mesmo. É também o momento ideal para recarregar a mente, desconectar um pouco da rotina de treinos e planejar o próximo ciclo.

A Importância da Recompensa

O final de uma prova, ou o encerrar de um ciclo de treinos não precisa ser encarado como algo negativo, mas sim como uma oportunidade para celebração. Após meses de dedicação, é o momento de nos presentearmos com aquilo que, muitas vezes, deixamos de lado. Seja aproveitando um sábado ou domingo para dormir até mais tarde, uma boa refeição, uma bebida especial ou uma viagem que estava nos planos. Esses momentos de lazer são fundamentais para manter o equilíbrio. Eles nos permitem sair da rotina e relembrar que há prazer também fora do esporte. Muitas vezes com a rotina de treinos intensos, você abre mão de uma série de coisas, que neste momento podem ser curtidas. Sempre falo, que o equilíbrio é uma das fontes do sucesso em tudo na vida.

O Desapego da Rotina: O Lado Emocional do Fim de um Ciclo

É crucial ver esse momento como parte natural do processo. Assim como as trilhas têm subidas e descidas, o treinamento também deve ser feito em fases, com momentos de esforço e de descanso. Isto tudo ajuda o ciclo a ser muito mais leve.

Ao reconhecer que o descanso faz parte da evolução, use esse tempo para refletir sobre o que foi alcançado, o que pode ser aprimorado, e até mesmo definir novas metas. O descanso, então, não é um fim, mas um espaço entre ciclos, que nos prepara para o próximo desafio.

Planejando a Renovação

O planejamento de um novo ciclo de treinos deve vir com novas perspectivas. Consultar um treinador, uma assessoria ou preparador físico pode ajudar você a personalizar um plano de periodização para seus objetivos específicos dentro da fase, do seu momento e do seu estilo de vida.

Encarar essa transição com flexibilidade e aceitação é importante para continuar evoluindo no esporte. Ao final, cada ciclo de treinamento é uma oportunidade não só de aprimorar o corpo, mas de aprender mais sobre nós mesmos, sobre nossos limites e sobre como podemos nos superar.

Como ressalta Jim Afremow, autor de The Champions Mind, é importante redefinir o sucesso e focar no “porquê” de se competir, registrando as emoções durante a recuperação.

Em resumo pessoal, é natural você sentir um vazio após o ciclo de preparação para uma prova intensa, mas é possível lidar com isso criando novos ciclos, aproveitando momentos de descanso e reflexão, e se permitindo desfrutar da jornada.

Lembrem -se em cada trilha percorrida, não é o fim da jornada que nos define, mas a soma de cada passo e o aprendizado que carregamos adiante.

Bons treinos, boas provas e até breve !

Abraço, Silvia Schreer