O ultracorredor francês Mathieu Blanchard adicionou mais um capítulo épico à sua trajetória ao vencer o Yukon Arctic Ultra, uma das provas mais desafiadoras do planeta. Enfrentando temperaturas abaixo de -50°C, neve incessante e puxando um trenó de 30 kg, ele percorreu os 608,7 km da competição em 7 dias e 22 horas, superando não apenas seus adversários, mas os próprios limites humanos.
Uma jornada no limite
O Yukon Arctic Ultra, realizado no noroeste do Canadá, é amplamente reconhecido como um dos desafios mais severos do mundo da ultradistância. Blanchard, que já havia mostrado sua resiliência ao vencer a Diagonale des Fous em 2024, preparou-se meticulosamente para enfrentar a brutalidade do clima e o desgaste extremo da corrida. Durante o percurso, lidou com hipoglicemia, alucinações e problemas respiratórios, culminando em uma etapa final que testou cada fibra de sua resistência física e mental.
“Ser um Caminhante Branco de Game of Thrones”
Os últimos 71 km, entre o último posto de controle e a linha de chegada em Faro, foram um verdadeiro teste de sobrevivência. Desorientado e exausto, Blanchard descreveu a experiência como “ser um Caminhante Branco de Game of Thrones”, tamanho o impacto das temperaturas congelantes e da fadiga extrema. Mesmo diante do esgotamento absoluto, ele manteve o foco e cruzou a linha de chegada, onde foi recebido por crianças locais e pelo amigo Loury, que havia sido forçado a abandonar a prova devido a queimaduras causadas pelo frio.
Um espírito indomável
Blanchard foi o primeiro corredor a completar os 600 km nesta edição do Yukon Arctic Ultra, com apenas mais dois participantes conseguindo finalizar a prova em outras modalidades. Inspirado por aventureiros como Jack London e Thierry Corbarieu, ele reafirma sua vocação para desafios extremos e sua busca incessante por autossuperação.
Em uma publicação emocionante no Instagram, compartilhou uma imagem com a barba coberta de gelo e uma lágrima escorrendo pelo rosto, acompanhada da legenda: “Uma lágrima. Ela contém tudo. Dor, alegria, loucura, sobrevivência, realização, sofrimento, euforia e medo. Não é uma vitória contra o frio ou a distância. É um retorno ao essencial, ao instinto, à minha natureza selvagem.”
Novos desafios no horizonte
Para Blanchard, a linha de chegada nunca é o fim, apenas um novo ponto de partida. Seus próximos desafios já estão traçados: o Iditarod Trail Invitational, no Alasca, e o Lapland Arctic Ultra, na Suécia. Com um currículo que inclui o segundo lugar na UTMB 2022 e o terceiro lugar na Marathon des Sables 2023, sua ambição e determinação não conhecem limites.
Antes da corrida, recebeu uma mensagem inspiradora do lendário aventureiro Mike Horn: “Abrace o frio, a neve e o desconforto. Faça deles sua casa.” E foi exatamente isso que Blanchard fez no Yukon Arctic Ultra: transformou o frio extremo em seu aliado e a adversidade em um trampolim para a glória.
O mundo da ultradistância tem um novo nome entre os grandes, e Mathieu Blanchard mostrou que está pronto para conquistar qualquer ambiente, por mais inóspito que seja.
