
Western States 2025: O grande encontro do ultratrail volta à Califórnia
Nos dias 28 e 29 de junho, cerca de 370 corredores se enfrentam aos desafiadores 161 km entre Olympic Valley e Auburn, na 52ª edição da lendária Western States 100. E um dos maiores nomes da história do esporte está de volta: Kilian Jornet.
A cada mês de junho, a atenção do mundo do trail running se volta para a Califórnia. Não é preciso estar na linha de largada para sentir a força dessa prova — basta acompanhar para entender a mística. A Western States 100-Mile Endurance Run é considerada por muitos como a mais emblemática entre todas as ultramaratonas de 100 milhas, dividindo os holofotes com o UTMB. Em 2025, mais uma vez, 370 atletas largarão de Olympic Valley com um objetivo: alcançar a pista de atletismo de Auburn dentro do limite de 30 horas.
Uma prova que vai além da corrida
A Western States não é apenas uma corrida: é um teste físico e emocional, carregado de tradição, calor intenso e muita história. Tudo começou em 1955, com uma aposta entre cinco cavaleiros que queriam percorrer 100 milhas em um único dia. Em 1974, após ficar sem cavalo, Gordy Ainsleigh decidiu completar o percurso correndo — e conseguiu, em menos de 24 horas. Nascia ali a lenda.
Cinco anos depois, em 1979, já eram 143 participantes. Hoje, por questões ambientais e logísticas, o número máximo de inscritos é limitado a 369. Em mais de cinco décadas, surgiram nomes que marcaram época: Scott Jurek (7 vitórias consecutivas), Ann Trason (14 vitórias em 15 anos) e Tim Twietmeyer (25 participações abaixo de 24 horas). Clássicos do cinema de montanha como Unbreakable (2012) e Life in a Day, de Billy Yang, eternizaram algumas edições inesquecíveis.
Ausências sentidas… e retornos esperados
A edição de 2025 já tem seus primeiros destaques — e surpresas. O atual recordista e tetracampeão Jim Walmsley retirou seu nome da lista de inscritos no fim de maio. Outros nomes fortes, como Hayden Hawks e Jon Rea, também ficaram de fora.
Mas a grande notícia é o retorno de Kilian Jornet, considerado por muitos o maior corredor de montanha da história. Vencedor da prova em 2011, com 15h34min24s, ele volta ao evento 14 anos depois, com uma preparação voltada para terrenos planos e quentes. A dúvida que paira é: será o suficiente para competir com o ritmo alucinante que a prova exige atualmente?
Entre os principais nomes do masculino em 2025:
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Adam Peterman (EUA) – Campeão em 2022, chega 100% recuperado das lesões.
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Vincent Bouillard (França – Hoka) – Campeão do UTMB 2024; garantiu vaga em Chianti.
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Rod Farvard (EUA) – Vice em 2024, duelou diretamente com Walmsley.
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David Roche (EUA) – Vencedor de Leadville e Javelina, quebrou recordes.
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Dan Jones (Nova Zelândia) – Recordista em Tarawera 100k, em fevereiro.
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Seth Ruhling (EUA) – Superou o recorde de Hawks no Black Canyon.
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Peter Fraňo (Eslováquia) – Vice no CCC; estreia na Western States.
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Caleb Olson (EUA) – Campeão da Transgrancanaria e pai recente.
A disputa feminina: novo capítulo em aberto
Sem campeãs anteriores na linha de largada, o título feminino em 2025 será decidido entre novas estrelas do ultratrail mundial. Destaques:
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Fu-Zhao Xiang (China) – Em 2024, estreou com o 3º tempo mais rápido da história.
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Eszter Csillag (Hungria) – 3ª colocada no ano passado.
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Emily Hawgood (Zimbábue) – 4ª em 2024 e moradora de Auburn.
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Riley Brady (EUA) – Pessoa não binária, venceu Javelina e Black Canyon com recordes.
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Tara Dower (EUA) – Recordista do Appalachian Trail; 2ª no Black Canyon.
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Lin Chen (China) – Abandonou em 2024 por lesão; retorna forte.
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Marianne Hogan (Canadá) – 3ª em 2022, já subiu ao pódio do UTMB.
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Caitlin Fielder (Nova Zelândia) – Versátil, grande resultado em Tarawera.
O percurso: tão bonito quanto brutal
A largada acontece às 5h da manhã em Palisades Tahoe, a 1.800 metros de altitude, com temperaturas próximas de 0 °C. O primeiro grande desafio é a subida até Emigrant Pass — são 800 metros de ganho em apenas 7 km. Em seguida, os atletas entram na região alpina do Granite Chief Wilderness, um trecho técnico de alta montanha que, neste ano, não contará com neve.
Ao alcançar Robinson Flat (km 48), termina o trecho alpino e começa a temida sequência de desfiladeiros: subidas e descidas íngremes com calor extremo, que pode passar dos 40 °C. Hidratação e estratégia térmica são cruciais para continuar na prova.
Em Forest Hill (km 100), os corredores podem encontrar suas lebres. Dali, descem até o lendário cruzamento do rio American, em Rucky Chucky (km 126). Se o rio estiver baixo, cruzam a pé; se estiver cheio, cruzam de bote e com colete salva-vidas. Depois, sobem até Green Gate (km 128) e entram no trecho mais “corrível”.
A última sequência traz o simbólico No Hands Bridge (km 156), a subida final até Robie Point (km 159) e o tão esperado momento de pisar na pista de atletismo da Placer High School, onde os 250 metros finais conduzem os atletas à glória.
Como conseguir uma vaga?
As vagas são extremamente limitadas. Os 10 primeiros colocados (masculino e feminino) da edição anterior garantem retorno automático. Os demais devem tentar a sorte no sorteio geral ou conquistar um dos cobiçados Golden Tickets, distribuídos em apenas sete provas qualificatórias, como: CCC, Tarawera, Chianti by UTMB, Black Canyon, Canyons 100k e Javelina Jundred.
A parceria com o circuito UTMB ajudou a internacionalizar a prova, e o nível técnico aumentou: hoje, estar no top-10 não garante uma boa recuperação na segunda metade. É uma corrida onde a tática vale desde o primeiro passo.
Premiação, símbolos e emoção
Os campeões têm seus nomes gravados na taça Wendell Robie e recebem o tradicional troféu de puma de bronze. Quem completa a prova em até 24 horas ganha uma fivela de prata feita à mão. Entre 24 e 30 horas, a fivela é de bronze. A chamada “golden hour” — a última hora da prova — é um dos momentos mais emocionantes: atletas lutando para cruzar a linha de chegada e o público vibrando a cada chegada. É um sentimento difícil de explicar para quem nunca esteve lá.
Também há troféus por categorias e um reconhecimento especial aos corredores mais veteranos que completam a prova.